Qual tem sido a participação feminina em espaços de poder? Quais os níveis de representatividade da mulher? Onde estão as mulheres na política, diplomacia, etc.? Vamos refletir agora acerca do espaço que “sobrou” para as mulheres no poder, aqui no Favela Internacional.
Tive a oportunidade de em Março de 2017 & 2018 participar de dois eventos/debates acerca da representação e participação feminina na política. Em decorrência destes, me dediquei a estudar bastante sobre o tema. Por isso, nossa reflexão hoje será embasada em dados, históricos, e principalmente, depoimentos e experiências de mulheres.
Falar de participação feminina em espaços de poder imediatamente remete à Representatividade – ter alguém que defende seus direitos e interesses em um parlamento, por exemplo. O que acontece no mundo real é que há uma grave distorção entre quantidade da população de um grupo X a proporção de representação em câmaras, senados, corpos diplomáticos, etc. – e não se limitando a este âmbito numérico.
Comparando dados de 2 dos maiores países do continente americano, Estados Unidos e Brasil, temos o seguinte cenário:
- Em ambos os países, a mulher constitui 51% da população;
- Na política americana (considerando Congresso e Senado), a proporção de mulheres é de aproximadamente 20%;
- Na política brasileira (considerando Congresso e Senado), a proporção de mulheres é de aproximadamente 11% e 15%, respectivamente.
E ainda dissecando os números para dentro do Brasil, temos:
A conta não fecha. A mulher é (mais da) metade da população, mais nunca passa da faixa de 20% nesses espaços. Ou como diria a feminista, bióloga, deputada brasileira Bertha Lutz:
“A mulher é metade da população, a metade menos favorecida (…)”
– Bertha Lutz em seu discurso de posse na Câmara dos Deputados, 1936.
E por que representatividade importa? Para além de ser uma questão óbvia de democracia, é “preciso que a representação seja feita por alguém que vive e experimenta aquela sensação (sua causa a ser defendida) todos os dias.” – Camilla Borges em entrevista para o Favela Internacional. E longe de isso aqui ser um “ponto final” no assunto de democracia e representatividade, quero apenas ressaltar que para minorias políticas como a das mulheres, isso importa bastante e está longe de suas realidades – segundo elas mesmo, e não segundo eu.
No evento de 2017 no qual participei, “Empoderamento da Mulher nas Relações Internacionais e na Política Brasileira”, giramos o debate em torno das cotas de gênero que existem no Brasil; e no recente evento de 2018, “Participação feminina nos espaços de poder: diplomacia e eleições”, abordamos as dificuldades e entraves do acesso da mulher nos espaços de poder. De ambas as ocasiões, posso resumir o que aprendi das dificuldades delas:
- Apesar de existirem leis que promovam mais direitos as mulheres nesses âmbitos, não há fiscalização ou garantia do cumprimento desses direitos. Exemplos: 1 – Licença maternidade no Brasil, em que após retornarem da licença, algumas mulheres são demitidas; 2 – Cotas de gênero no Brasil, que exige a presença de mulheres nas candidaturas, mas não garantes as vagas propriamente ditas;
- Explicitamente ou formalmente, não há constrangimentos institucionais contra a participação efetiva da mulher. A boa parte das barreiras são invisíveis, implícitas, o que implica em trabalharmos, primeiramente, na mudança de mentalidade das pessoas (tarefa de longuíssimo prazo e muito distante da realidade);
- As transformações precisam ser feitas em diversas esferas: No público e no privado, na estrutura e na conjuntura, na base e na liderança, a curto e a longo prazo, com mulheres e com homens.
Finalmente, diante de tudo isto e respondendo à pergunta-título desse post: Sobrou o espaço da sub-representação. Quanto mais alto os cargos (embaixador(a), governador(a), presidente), menos mulheres. E como discursou a diplomata norte-americana Catherine Griffith em nosso evento de 22 de março de 2018:
“As mulheres estão sub-representadas na política, mas sobrerrepresentadas na pobreza e na desigualdade.”
– Catherine Griffith, Cônsul para assuntos políticos e econômicos do Consulado Geral dos Estados Unidos no Recife.
Imagem destacada: Future Female Leader.
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Publicação nova todo final de semana.
Referências:
- https://www.terra.com.br/noticias/brasil/mulheres-representam-515-da-populacao-brasileira-diz-ibge,4f92dc840f0da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
- https://www.kff.org/other/state-indicator/distribution-by-gender/
- http://archive.ipu.org/wmn-e/classif.htm
- https://www12.senado.leg.br/cidadania/edicoes/546/discurso-de-bertha-lutz-ha-80-anos-permanece-atual
- http://www.faculdadedamas.edu.br/noticia/alunos-de-ri-participam-de-debate-no-tre-pe
- http://www.tre-pe.jus.br/imprensa/noticias-tre-pe/2017/Marco/debate-sobre-empoderamento-feminino-acontece-no-tre-pe
- http://www.faculdadedamas.edu.br/noticia/neari-promove-seminario-e-roda-dialogo-no-proximo-dia-22-03
- http://www.faculdadedamas.edu.br/noticia/em-dia-de-eventos-neari-promove-debates-sobre-igualdade-de-genero